O que torna uma equipe competente o suficiente a disputar um título? Sendo esse título, então, a Premier League, o questionamento se prolonga ainda mais. É árdua a tarefa de encontrar uma fórmula para ganhar essa liga, mas existe, sem dúvida, alguma relação com a tese abaixo.
O Borussia Dortmund, em 2015-2016, apresentava um time titular de excelência semelhante à do Bayern, revelando joias ao mercado e esbanjando, ao final da temporada, o melhor jogador da Bundesliga, Henrikh Mkhitaryan. Mas não fora suficiente. Desde 2016, o Tottenham apresenta, em aspectos plásticos e lampejos, o futebol mais vistoso da Inglaterra. Impressionantemente, ainda não levantou um caneco. A Juventus, nessa última temporada, voltou a uma final de Champions League e, após realizar uma primeira etapa acirrada, viu os merengues sacarem Bale e Modric para a entrada de James e Isco, enquanto os italianos, que iniciaram com Dybala e Dani Alves, pouco tinham a fazer, pois as opções eram limitadas. Todos sabemos o desfecho.
Quais as principais justificativas para tamanhas frustrações? Em suma, elencos enxutos e carentes de variações. O contingente de jogadores de qualidade era, fatalmente, escasso. Consequentemente, essa condição determinou os fracassos desses clubes.
>>Os ares em Manchester
Aos olhares pessimistas, o Manchester United poderia, levando em consideração a consistência do atual campeão e o brilhantismo do City ao reformular-se sofisticadamente, se contentar com um vaga para a Uefa Champions League, nada muito distante da temporada anterior. Felizmente, os ânimos no noroeste inglês estão elevados.
Vê-se, até aqui, um grupo disciplinado, trabalhando arduamente para conquistar posições e, impressionantemente, permitindo que haja rodízio em jogos teoricamente mais complicados. Pode-se resumir em três fatores: esforço, concorrência e competitividade.
Na defesa, Phil Jones, peça questionada em alguns momentos, coleciona boas atuações e, nesses primeiros meses, a titularidade. Eric Bailly mantém-se o monstruoso defensor de sempre. Para a reserva, Victor Lindelof, contratado recentemente, parece estar disposto a atingir nível de primazia suficiente para estrear na Premier League, já Smalling, velho conhecido, dificilmente permitirá que o seu fim seja o banco de reservas, pois almeja o English Team.
As laterais expõem surpresas . De um Blind confiante até um renovado Ashley Young, o lado esquerdo parece vivenciar, contando com a volta de Luke Shaw, um momento de alta competitividade. À direita, Valência se perpetua ainda mais como o dono da posição e vive, decerto, o auge técnico da carreira, podendo ser substituído por Young e Darmian, este um reserva de luxo.
Os setores intermediário e avançado são, certamente, os principais motivos de o lado vermelho de Manchester estar sorrindo. Fellaini, eterno alvo de críticas, vivencia, com Mourinho, uma fase de segurança e serenidade, anotando dois gols na última partida, ademais o bom trabalho na contenção, e ganhando, surpreendentemente, o man of the match. Matic é genial, merece uma coluna apenas sobre os seus dotes. Herrera, apesar de haver sido o melhor jogador da última campanha, não se acomodou e percebeu que não existe vaga garantida no Manchester United de José Mourinho, atuou bem na Champions e vem sendo útil ao entrar na segunda etapa. Notem bem, o esquadrão ainda integra a lenda Michael Carrick e eu nem mesmo citei um tal de Paul Pogba.
No flanco esquerdo, presenciamos um revezamento invejável e impecável. Anthony Martial e Marcus Rashford, atuando em conjunto, já são responsáveis por 10 gols e 10 assistências. Sinônimos de talento. Um inicia a partida com objetividade, o outro a encerra com elegância. Mutuamente, ambos se reforçam e impedem que haja um sentimento de “salto alto”.
O (sonolento) Mkhitaryan, que faz um ótimo início de temporada, se deu conta de que, para se consagrar no gigante inglês, precisa se entender com o português e dar tudo de si em campo, já que Lingard e Juan Mata estarão sempre em alerta, visando à vaga. Destaque para o espanhol, que, se algum dia já entrou em desavenças com o Special One, essas não mais parecem impedir sua contribuição à equipe. Disputas sadias e produtivas.
Na prática, é preciso formar um elenco robusto. Não na acepção de numeroso ou supervalorizado, mas no entendimento de esboçar variedades e possibilitar concorrência entre os jogadores. Se isso é primordial para que uma taça relevante seja conquistada, o torcedor red devil já pode, nas devidas proporções, empolgar-se: o United possui um elenco pujante.