É certo que Paul Labile Pogba, em 2017/2018, vivenciou momentos altos e baixos. Antes da lesão que o tirou de cena por alguns meses, tivera ótimas atuações no início da temporada. O francês chegou ao ápice, apesar da expulsão infantil, na emblemática vitória diante do Arsenal no Emirates (com direito a duas assistências e uma bela jogada diante do respeitado Koscielny), mantendo a boa sequência diante de Stoke e Everton . Era, junto de De Bruyne e Silva, o líder da assistências da Premier League, com a vantagem de ter 10 jogos a menos que ambos.
Em meados de janeiro, infelizmente, seu rendimento caiu. Na fatídica derrota diante do Tottenham, Paul foi duramente criticado por José Mourinho e chegou a ser substituído em poucos minutos da segunda etapa. Era o início de uma suposta desavença com o treinador português, a qual só teria fim após a frustrante eliminação na Champions League diante do Sevilla. Era tempo de recomeço.
Após esses ocorridos, Pogba voltou a viver bons momentos. Foi peça-chave na classificação para a final da FA Cup e comandou a já histórica virada diante do Manchester City em pleno Etihad Stadium, coroando uma temporada em que se mostrou o líder técnico do plantel mancuniano. Ao fim da temporada, viria a ser campeão do mundo pela França e amplamente elogiado pela crítica por tamanha regularidade durante o torneio.
Para 2018/2019, entretanto, algumas dúvidas permanecem. Com as chegadas de Pereira (empréstimo) e Fred (maior contratação até então), qual seria a melhor posição para escalá-lo no setor intermediário? O francês é mais produtivo como um meia-central ou jogando mais próximo dos atacantes? Paul Pogba, afinal de contas, é um playmaker que deve ganhar nenhuma obrigação defensiva ou um meia box-to-box qualificado para cumprir todas as funções exigidas?
>>Elucidando os estrangeirismos
O que é um playmaker? De quais qualidades um jogador precisa dotar para que seja considerado um “criador de jogadas” diferenciado? Antes de tudo, é preciso ressaltar que esse termo está, no seu uso recorrente, mais relacionado à função que um jogador exerce dentro de campo, ou seja, independe de como ele é escalado, ao passo que um líbero, como Mats Hummels, pode ser considerado um jogador fundamental no processo de criação de jogadas, enquanto um camisa 10, como Rooney, venha a ter menos importância nesse quesito.
No Brasil, convém-se chamar de Maestro ou Camisa 10, mas o termo da gringa me parece ainda mais expansivo. Quando falamos, aqui, que um jogador é o armador do time, temos em mente, no geral, um jogador “de frente”. Os europeus, em detrimento, podem vir a considerar jogadores menos avançados como criadores de jogadas (play + maker), havendo sido Ronaldinho Gaúcho (ponta-esquerda) um invejável playmaker e Marcelo (lateral-esquerdo) igualmente considerado como tal.
E um box-to-box? O que essa definição, totalmente vinculada à cultura tática britânica, significa de fato? Historicamente, os times “truncados” do futebol inglês adotavam o 4-4-2 como sua tradicional disposição em campo. Nesse desenho, havia dois ponteiros mais ofensivos e dois meio-campistas jogando “dentro da caixa” (daí a alusão). Esses meias, porém, precisavam exercer as funções de contenção com tanta excelência quanto armavam as jogadas ofensivas. No fim das contas, eram meias extremamente completos e a Inglaterra os produziu aos montes (Carrick, Gerrard, Lampard, Scholes, Hargreaves etc).
Nesse cenário, queremos saber se as características individuais de Pogba o tornam mais próximo de um mero armador ou, nas palavras de Mourinho, um jogador “Bom numa área e na outra. Que defende bem num lado e tem a condição física e a resistência de chegar ao outro, onde deves ser bom marcando ou criando…”
Analisando os seus números na Premier League, veremos 16 participações diretas nos gols em 27 jogos, além média de 63 passes efetuados e 4 chances criadas por partida. Sem dúvidas, poucos conseguem tamanho desempenho criativos. Mas Pogba apresenta também 70% de acerto nos desarmes, média de 1,1 interceptação por jogo e formou uma trinca literalmente imbatível na defensiva França campeã do mundo.
Concluo, após tanta exposição, que um jogador de tamanha habilidade, qualidade de passe e capacidade de fazer lançamentos longos não pode ter o seu potencial criativo frustrado. Porém, o seu vigor físico e desempenho como volante defensivo também exprimem a sua utilidade para um sistema defensivo (principalmente nas mãos de alguém como Mourinho). Elegante demais para jogar distante dos atacantes e consistente demais para se tornar um jogador de poucas funções táticas, o francês só pode ser, afinal de contas, um meia capacitado a fazer tudo dentro de campo.