Hoje não é dia da minha coluna aqui no site, mas eu não consegui tirar esse pensamento da minha cabeça. Estive numa briga comigo mesmo em querer escrever algo sobre o assunto, mas não querer pegar esse gancho tão doído para nós que somos apaixonados por futebol. Para nós que torcemos pro United, um acidente como esse da Chape, não só abre uma ferida gigante como faz latejar uma outra ferida. Aquela ferida aberta em Fevereiro de 1958.
Depois do jogo entre Manchester x West Ham, na última quarta-feira pela Copa da Liga, ainda muito abalado com toda situação, ver um clube que já passou por um momento similar ao da Chape, prestando homenagens, torcedores bastante sentidos, bandeiras com dizeres motivacionais… Foi lindo de se ver. Ainda mais porque tive que fazer a crônica pós-jogo e relatando as homenagens.
Como não relacionar os acidentes? É complicado. É uma linha muito tênue e é preciso ser milimétrico com as palavras.
Em 1958, o Manchester United voltava de uma partida contra o Estrela Vermelha, na qual empatou por 3×3 e classificou-se para as semifinais da Champions League. Voltando para Manchester, a equipe faria uma escala em Munique, já que a autonomia do avião não aguentaria a distância entre a Iugoslávia e Inglaterra. O aeroporto de Munique estava coberto de névoa, chuva e neve na pista. Com o avião em solo, os passageiros saíram e foram esperar no saguão do aeroporto. Enquanto isso, o capitão do voo ativava o equipamento anti-congelamento das asas, para que a neve não atrapalhasse a decolagem.
Feito o abastecimento, a delegação do United junto aos jornalistas que também estavam no voo, embarcaram de novo no avião rumo a Manchester. Com todos a bordo, o piloto da aeronave ouviu um barulho estranho no motor e abortaram a decolagem. Nova tentativa de decolagem e novamente abortada pelo mesmo motivo. Após a segunda tentativa, o piloto pediu para que os passageiros voltassem ao saguão enquanto o problema fosse solucionado. Duas horas mais tarde, a terceira e última tentativa foi realizada. O avião com o elenco do Manchester United perdeu velocidade pela quantidade de neve na pista, não ganhou altura, bateu numa cerca do aeroporto e foi parar em uma casa próxima ao local. A cauda e as asas do avião são destruídas. Parte da fuselagem danificou o tanque de combustível, o que causou a explosão que matou 23 pessoas, sendo 8 jogadores, 8 jornalistas, 3 funcionários do clube, 2 membros da tripulação, 1 torcedor e 1 agente de viagens. Entre os sobreviventes estavam o treinador Matt Busby e Bobby Charlton, um dos craques do time.
13 dias após a tragédia, o Manchester United voltou à campo. Comandado pelo assistente Jimmy Murphy, os desfalcados Busby Babes, como o time era conhecido, venceram o Sheffield Wednesday por 3×0, pela FA Cup. Foi quando a Matt Busby, na cama do hospital onde se recuperava do acidente, disse ao seu assistente: “Keep the red flag flying high” (Mantenha a bandeira vermelha voando alto). Frase essa que está eternizada no hino do clube.
Busby retornou ao clube no dia 18 de Abril de 1958, 71 dias após o acidente, sentado no banco de reservas, observando Murphy comandar o time. Apesar de toda a tragédia, o United chegou à final da FA Cup, onde foi derrotado pelo Bolton Wanderers. Em 8 de Maio, o United bateu o Milan por 2×1, no jogo de ida da semifinal da Liga dos Campeões. No entanto, no jogo de volta, uma semana depois, o Milan derrotou o United por 4×0 e avançou à final.
10 anos após a tragédia, o Manchester United, comandado por Matt Busby e com Bobby Charlton como capitão, venceu o Benfica por 4×1 na final da Liga dos Campeões, se sagrando o ganhador do título mais importante para um clube europeu.
E o que isso tem a ver com a Chapecoense?
Bom, obviamente o United não teve seu time praticamente acabado pelo acidente como teve o time catarinense. Além do acidente com a equipe brasileira ter sido muito pior. Sei que é difícil pensar em algo que não seja a tristeza pela perda de praticamente um time inteiro, mas como Sir Matt Busby disse para seu assistente quando estava na sua cama de hospital: “Mantenha a bandeira voando alto”. É parafraseando ele que eu dei esse nome ao texto e é a mensagem que quero passar aos torcedores da Chape que estão lendo, e até os que não são torcedores mas que, assim como eu, têm um carinho especial pelo tão carismático clube catarinense. A Chape precisa de você, assim como o United precisou de seus torcedores. E olhem como o United está hoje. Guardadas as devidas proporções, a Chape merece ser tão gigante como, mais do que já é.
Assim como o United estava viajando fazendo história em busca do primeiro título internacional do clube, a Chapecoense, da mesma forma também estava, mas no caso, não precisou de 10 anos pra ganhar o título internacional. A Chapecoense ganhou o mundo. Milhões de pessoas. Milhões de apaixonados.
O Manchester United não acabou, assim como a Chapecoense não vai acabar. A ferida vai demorar pra cicatrizar, assim como demorou a do time inglês, mas é preciso manter a bandeira verde voando alto por aí. Força, Chape! Nós estamos juntos juntos nessa.