O time do Manchester United tem 144 anos de existência e alguns hiatos entre altos e baixos. A história do clube é densa e repleta de momentos alegres, mas também de momentos tristes, como Old Trafford em ruínas após o bombardeio aéreo em 1941 – o acidente em Munique, no ano de 1958, que levou grandes nomes dos “busby babes”. Os Red Devils passaram os anos 70 e 80 aos trancos e barrancos, até a chegada de um certo senhor, chamado Alex Fergurson, em 1986, que trouxe novos ares.
É claro que foi necessário muito trabalho antes da mágica realmente acontecer. Mesmo com a chegada de Ferguson, as vitórias começaram a vir apenas a partir dos anos 90, quatro anos depois. Se olhamos para trás e analisamos a história do clube, um elemento central em todas essas narrativas é que o Manchester United sempre encontrou uma forma de se reerguer.
Depois do primeiro título com SAF, o United se transformou em uma potência, um time devastador. As crianças que cresceram assistindo a era Ferguson se tornaram adultos frustrados após a saída do técnico escocês. São inúmeros os pontos que trouxeram o clube para esse patamar, sendo o mais prejudicial os Glazers.
Então, em 2022, chega um técnico holandês, chamado Erik ten Hag. O futebol mudou desde então, os resultados precisam ser mais imediatos e a cobrança é forte, seja por parte dos torcedores, da crítica ou da mídia. A verdade é que ten Hag trouxe essa sensação de nova era com ele. O time emplacou uma sequência positiva, mas ainda existem elementos que trazem a sensação de desconforto.
Vamos falar dos assuntos delicados. Cristiano Ronaldo desaprendeu o caminho do gol. Isso é fato. Por enquanto, o português marcou apenas três vezes. O técnico holandês e o camisa 7 parecem viver um casamento infeliz, em que ambos estão ali apenas por obrigação. O atacante não se encaixa no estilo de jogo e o time fica muito previsível com ele. Cristiano deixou de ser a referência confiável de que precisamos e o comportamento dentro de campo tem sido, no mínimo, lamentável.
Por outro lado, quando tentamos depositar essa confiança em Anthony Martial, nos decepcionamos com mais uma notícia de lesão. No entanto, o francês tem números melhores que os do português, mesmo tendo jogado muito menos. Falta alguém no elenco com os atributos de finalizador – e é estranho dizer isso tendo Cristiano Ronaldo no time.
Jadon Sancho, apesar dos lampejos de craque, parece mais uma sombra do que era como jogador no Borussia Dortmunt. Victor Lindelof peca nos botes e não transmite a mesma confiança de Varane, que está lesionado. Donny van de Beek dispensa comentários. E aí: quem é o culpado? O jogador? O técnico? A má administração dos Glazers? A falta de investimento? O torcedor não merece mais anos dessa triste história, queremos o fim desses anos de azar.
O elenco do Manchester United não é ruim. Vemos grandes nomes, que custaram grandes fortunas também. Apesar de uma reconstrução exigir muita paciência do torcedor, é difícil pedir ainda mais de um torcedor que já sofreu tanto. Por outro lado, se Alex Ferguson demorou quatro anos para alcançar seu primeiro título, quanto tempo vai demorar ten Hag? Não sabemos, mas o holandês transmite confiança e parece trabalhar dia após dia. O seu efeito é imediato na qualidade de jogo, mas ainda falta alguma coisa e bate aquele medo de: e se não der certo, de novo?
Erik ten Hag tem a confiança do elenco. As novas contratações transmitem segurança e se tornaram cruciais em pouco tempo. Lizando, Antony e Eriksen tem sido uma grata surpresa, se tornaram jogadores importantes e que atendem às expectativas. Eu, particularmente, nunca achei que fosse gostar de um argentino e estou encantada com o zagueiro. Casemiro coleciona elogios, já mostra confiança em seu jogo e impacta nos acertos, desarmes e construção de jogada.
Os jogadores que viveram os anos azarados parecem estar recuperando a confiança. Marcus Rahsford volta a brilhar; Luke Shaw vem de ótimas atuações; Bruno Fernandes, apesar de muito criticado, é peça chave para que o meio de campo funcione, – e vimos isso na última derrota para o Aston Villa. Nesse cenário, o que nos resta é paciência, confiar no processo e no trabalho do holandês para trazer o Manchester United de volta aos tempos de glória.